Words Challenge 2019 - Setembro/Virgem

Olá cupcakes! Hoje é dia de Challenge comigo e a Alê do blog Estante da Alê  - os challenges mudaram e estamos um pouco mais ousadas: aumentamos os textos, aumentamos as palavras e estamos fazendo personagens inspiradas em cada mês. Agora estamos em agosto e existe, ao menos, um personagem virginiano (a) nos nossos textos com características como perfeccionista, sério demais, esforçado e charmoso.  Lembrando que o tema é Livre😉 Você consegue identificá-lo (a)?

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Challenge 2019 - Setembro

Palavras: ainda, pouco, tempo, hamburguer, promoção, piso, granizo e ossos

Ele estava sério demais e eu o observava por sobre o balcão mais uma vez.

Engraçado como as coisas podem mudar não de um dia para o outro, mas em alguns anos. E outras coisas, sempre permanecerão iguais.

Me lembro ainda quando tínhamos uma relação gostosa e saudável. Ficamos juntos por quatro anos, muito antes dele decidir que precisava fazer o mestrado e o intercâmbio e não podíamos nos prender a uma relação. Agora o observando, com alguns cabelos grisalhos, por mais que ainda esteja na faixa dos trinta e poucos anos,  e sem aliança na mão, vejo que dentre tantas mudanças, algumas coisas ainda permanecem ali.

Cá estou eu, olhando para ele, com o mesmo encantamento da primeira vez que ele me disse sim, algum tempo depois do nosso adeus. Exatos cinco anos.

Apesar de saber que ele dá aulas de história à noite na faculdade pública estadual, durante o dia ele trabalha no restaurante dos pais, lidando com os pedidos e encaminhamentos, no meio de hambúrgueres e pratos executivos. Ele ainda  deixa o lápis apoiado charmosamente na orelha. Sério demais ainda para erguer os olhos.

- Tudo bem, Dania?

- Claro, claro, Marcos.

- O que acha do prato da promoção do dia? Enroladinho de frango no bacon, arroz, salada e berinjela crocante. Não foge totalmente da sua dieta, mas...

- Hã? Ah, pode ser. 

Marcos é irmão de Eduardo, meu ex-namorado de alguns bons anos atrás. Ele já é casado há uma década com a mesma mulher, que aliás, é a minha melhor amiga desde a infância e me trata exatamente como sempre. Apesar de sempre ter conhecido Eduardo, nós fomos nos apaixonar mais tarde e foi um pouco de repente, assim como quando uma flor desabrocha no inverno e você não sabe de onde veio aquilo. A conexão foi tão profunda e imediata, que quando ele disse que precisava se esforçar mais e não poderia me dar toda a atenção que eu merecia em nossa relação, bem... Eu quase pirei. Mudei de cidade. Mas mantive o contato com o irmão e minha amiga. Por isso ele sempre soube das minhas dietas malucas. Por isso ele ainda sabia dos meus gostos quando ia visitar sua esposa, Carla.

Marcos saiu para a cozinha e fiquei observando seu irmão mais uma vez. Enquanto o cheiro familiar de comida se espalhava pelo restaurante, lá fora estava um frio de congelar os ossos e percebi que o granizo estava se condensando no chão, formando pedrinhas de gelo na calçada.

Concentrado demais, ele ergueu os olhos, procurando algo. Os seus passaram pelos meus bem depressa e baixou-os novamente. Ele não havia me notado.

Mas as íris me encontraram novamente e o olhar de reconhecimento estava no seu rosto como um todo - os lábios entreabertos e tremendo, as sobrancelhas arqueadas e pude ver que seu pulso vacilou no caderno de anotações. Não me mexi, porque eu mesmo sempre ignorei o controle das minhas emoções quando estava perto dele e nunca confiei em mim quando isso acontecia.

Meus pés que estavam sobre o chão, mas pareciam não encontrar mais o piso quando o vi se movimentar em minha direção. Encarei-o por um segundo e, em seguida, vi Marcos deixando meu prato em cima do balcão, apetitoso para meu paladar vasto e dentro da dieta que eu teimava em fazer.

- Está aqui, Dania. Molho Caesar na salada exatamente do jeito que você gosta. - Ele saiu dando uma piscadela. - Anota o pedido da moça aqui, Edu. E o cone trufado pra viagem é por conta da casa hoje. Mas só hoje.

- Dania.

Sua voz ainda me era familiar. Rouca e estável. Só de ouvir sua voz, eu me lembrava dos seus lábios na minha orelha sussurrando juras de amor e os beijos que depositava com carinho na minha clavícula.

- Eduardo.

- Eu... Eu trouxe sua conta, Marcos pediu pra te entregar.

Ele me entregou um envelope branco em branco. Estranhei a atitude, mas ele voltou para o caixa, pois uma fila já se formava para ele. Antes de ir, ele olhou mais uma vez para trás, nos meus olhos e seguiu em frente.

Guardei o envelope no bolso e sorri.

Eu já sabia o que estava escrito sem ter lido.

E o que faria com aquilo.

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