Cabeçalho

Words Challenge 2020: 1960 - Época da Jovem Guarda

Hey cupcakes! Como vocês já sabem, eu e a Alê do blog Estante da Alê anualmente preparamos com muito carinho um desafio de palavras durante o ano todo, onde podemos nos desafiar e trazer um texto diferenciado no conteúdo dos nossos blogs. 

O ano escolhido para esse mês foi 1960 com a Época da Jovem Guarda. Música,  notalgia, diversão. Continue lendo para conferir e não deixe de conferir também no Estante da Alê! 😍

Desafio Maio/2020

Palavras: encantamento, estorvo, fardo, nuvens, garganta, rejeitado

Não podia acreditar. Eu sempre soube que não era um dos homens mais bonitos do colégio, mas já é o décimo segundo convite que eu faço e que sou rejeitado de uma maneira nada agradável e educada e agora preciso me esconder no quarto da faxina, porque Dona Lucinéia viu todo o vexame que passei e me ajudou, afinal, ela é muito gentil.

Dessa vez, a convidada foi Cristiane, a terceira melhor amiga da garota mais famosa do colégio, a Toninha. Quando eu perguntei se ela gostaria de ir ao baile comigo, ela olhou bem para o meu cabelo cheio de gel e riu da minha cara, levando um coro de vozes juntamente com a sua risada. Ela negou veementemente e ainda disse muitas palavras que eu não gostaria de recordar. Eu só queria balançar um pouco o esqueleto e compartilhar algumas horas saudáveis regadas a refrigerante e nada mais. Eu não estava pedindo beijos ou sequer um compromisso sério... Só algumas horas de companhia e sorrisos para esquecer um pouco dos meus dias atarefados ajudando minha mãe em sua nova companheira que ela chamava de fardo: a cadeira de rodas.

Eu falei a ela que não queria ir ao baile por motivos muito óbvios, mas ela e meu pai brigaram comigo porque eu deveria sair por uma noite, afinal seria a minha última noite no segundo grau antes de ir para a faculdade e, eu estava ajudando muito eles, assim, eu merecia algumas horas de diversão com meus amigos da escola. Só que eu não tinha muitos amigos e nenhuma amiga que pudesse ir comigo - o que acredito ter afastado pela minha aparência de... Como eles chamam agora? Nerd. É isso. Meus cabelos cheios de gel para o meu lado preferido, meus óculos e a camisa xadrez de azul e laranja já puída que meu avô me presenteou antes de partir. Não que eu me importasse. Mas você deve saber como as pessoas podem ser más.

Ir ao baile, no entanto, só era possível se você tivesse uma acompanhante, o que até agora eu não havia conseguido.

Assim que o sinal para o retorno às aulas bateu, destranquei a porta e caminhei pelos corredores vazios. A última aula do dia era matemática e a minha preferida, com a senhora Candeira. Os números me confortavam tanto quanto palavras e vê-los no meio de um sistema enchia meus olhos como nada nunca fez. Bati na porta e fiz a mesura usual, fechando-a atrás de mim. Me dirigi ao meu lugar, mas uma garota estava sentada nele. Eu não a conhecia, mas ela tinha uma beleza que me chamou a atenção e eu nunca a tinha visto na aula antes. Olhos amendoados, a boca pintada e maçãs do rosto que a faziam parecer feliz. Ela me olhou curiosa e quando percebi que estava me encarando, olhei para o chão envergonhado. Resolvi não fazer cena, apesar de todos saberem que aquele era meu lugar de sempre, e me sentei atrás dela.

Ela tinha cheiro de fava de baunilha e usava um vestido claro com uma jaqueta de couro. Os cabelos cor de mel, penteados e volumosos, atrapalhavam um pouco a minha visão da lousa, apesar de eu realmente não estar reclamando sobre isso... Era de alguma forma, muito mais que interessante assim.

Ela não levantou a mão, mas a sra. Candeira disse que era sua sobrinha e que estava passando as férias por ali antes da faculdade, assim como nós. Assim que a aula acabou, me demorei mais do que deveria resolvendo os últimos exercícios de casa, porque eu não poderia deixá-los como dever, visto que precisava ajudar minha mãe. Só que eu não percebi que ela havia apagado toda a lousa e escrevia alguma coisa no quadro negro.

Assim que terminei o último exercício e olhei pra frente, ela estava sentada na mesa da professora e me encarava, de pernas cruzadas e um sorriso de lado no rosto. Minha garganta secou quando vi as palavras no quadro.

Você sabe dançar?

Perguntei se aquele era algum tipo de brincadeira de mau gosto, mas ela afirmou que não. Ela parecia sincera e observava cada movimento que eu fazia.

- Não. Eu sinceramente quero ir ao baile e minha tia disse que eu poderia ir se encontrasse uma companhia boa e correta. E eu adoro dançar! Perguntei à ela sobre você, e me deu boas recomendações. Não sei... Tem algo em você, que meu irmão costumava me  falar sobre... Talvez ele esteja certo. Mas se você não souber dançar....E eu também não quero ser um estorvo, e você pode ter convidado outras garotas, mas....

- Eu sei. Eu adoro dançar... Só não tenho tido muito tempo pra isso.

- Então ótimo! Eu te pego na sexta às oito, tudo bem?

- Eu... Mas...

- Esteja pronto às oito da noite.

E foi assim que passei de um cara que faz o convite, para um convidado pela garota mais interessante que eu já havia conhecido. Ela não parecia estar de brincadeira e o seu tom direto e simples me fazia imaginar que ela tinha atingido uma maturidade precoce por alguma vivência do passado.

Quando a sexta-feira chegou, eu já não estava me aguentando de curiosidade para conhecê-la, mas exatamente às oito da noite, um carro preto estava em frente a minha casa e no volante a própria sra. Candeira.
Minha mãe suspirou, me entregando uma flor para que eu colocasse no pulso da minha acompanhante, e se moveu até a entrada, acenando assim que saí. Voltei dois passos e lhe dei um beijo e abracei meu pai. Os dias estavam sendo difíceis, mas eu tinha esperança de que podíamos superá-los juntos. Vesti a jaqueta e coloquei as mãos nos bolsos. Era estranho estar sem os óculos, mas decidi que essa noite eu poderia ser outro Eduardo.

Quando entrei no carro, ela também estava muito diferente e rimos quando vimos que se houvéssemos combinado, não teria dado nada certo.

Ela estava com uma calça de couro, saltos e uma blusa sem mangas, que deixava seus ombros a mostra. Os cabelos volumosos presos de um lado e emoldurando seu rosto do outro. A boca cor de vinho contrastava com a pele branca e os olhos marcados. Ela estava lindamente rebelde.

- Você está... Incrível. Linda. - Eu havia perdido todas as palavras.

Eu havia tirado os óculos e vestia couro. Meus cabelos estavam em um topete que minha mãe diria que era charmoso. Aliás, com palavras dela, ela disse que eu estava um "pitel". Revirei os olhos com o elogio, mas sorri com o comentário.

Conversamos sobre tudo, sobre Deus e o mundo, sobre as músicas e canções, rodopiamos no salão e eu só percebi que estava em um encantamento algumas horas depois que o baile acabou e que ela já havia me deixado em casa, suspirando pela noite incrível depois de um beijo na bochecha que ela havia deixado marcado também na minha memória.

Quando entrei em casa percebi que tudo que eu precisava era de algumas horas pisando em nuvens, sem notar os olhares curiosos para cima de Eduardo, o nerd quadrado - como eles me chamavam. Não prometemos nada, não fizemos juras de amor, mas fiquei curioso por cada palavra, logo eu que nunca fui fã delas.

Só no momento de tirar a jaqueta, foi que percebi um bilhete com um número de telefone e um endereço e me perguntei se o caminho da felicidade poderia ter nome e sobrenome.


Postar um comentário

13 Comentários

  1. Oi, Pâmela como vai? Muito bom o escrito, parabéns! Ficou coeso e muito bem escrito. Abraço!


    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  2. Eu AMO esse desafio! Acho incrível como vocês criam todo um universo em torno de apenas algumas palavras!

    ResponderExcluir
  3. Você foi muito bem no desafio. Estória incrível.

    Bom fim de semana!

    Jovem Jornalista
    Instagram

    Até mais, Emerson Garcia

    ResponderExcluir
  4. Aiiii como eu amo essas nossas histórias!
    São tão delicadas, gostosas... kkkkkkkkkkkkkkkk
    Posso estar me achando, mas esse foi um dos melhores temas que escolhemos!
    beeeeijos Pamzinha
    http://estante-da-ale.blogspot.com/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. VOCE NAO ESTA SE ACHANDO
      VOCE ESTÁ É MUITO CERTA, MINHA AMIGA KKKKKKKKKKKKK

      Excluir
  5. Uau, Pam. Com apenas algumas palavras você criou um texto coeso e maravilhoso. Parabéns!
    Eu não conhecia esse desafio.

    Beijos, Vanessa
    Leia Pop

    ResponderExcluir
  6. Oi Pâm.
    Você e a Alê levam jeito para a escrita e acho o máximo esse desafio. Ficou ótimo o seu texto.
    Bjus

    ResponderExcluir
  7. Que legal,gostei de teu blog.Esta interação é contagiante.

    ResponderExcluir