Words Challenge 2021 - Cão e Gato

Hey cupcakes! Como vocês já sabem, eu e a Alê do blog Estante da Alê anualmente preparamos com muito carinho um desafio de palavras durante o ano todo, onde podemos nos desafiar e trazer um texto diferenciado no conteúdo dos nossos blogs. Esse ano nossas postagens vão ser um pouco mais completas, com direito a elenco, trilha sonora e cenários... Vocês poderão ver um pouquinho delas no Insta Rascunhando Memórias. Que tal conferir o nosso tema da vez na minha versão Cão e Gato?

Continue lendo para conferir!

Põe pra tocar: Supermassive Black Hole - Muse

Elenco:

Personagem Masculino: Marco Pigossi
Personagem Feminina: Fernanda Souza

Palavras:

atrevido, branco, cadeira, borboleta, planeta, vinte.

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Juro que eu não entendo. Eu estou tentando pela segunda vez tirar a carranca que está surgindo na minha testa do tanto que eu preciso franzir todos os dias por causa desse moleque. Desfaço todos os vincos, passando avidamente os dedos com o ácido hialurônico além de tomar colágeno todos os dias. Mas eu não acho que isso adiante muito....Ele continua me irritando tanto quanto me irritava quando éramos mais novos.... Há tempos ele me atormenta e eu sou obrigada a aguentar esse cara no meu pé me azucrinando!!! E não adianta reclamar, porque ele ressurge como uma fênix das cinzas. Por vinte longos anos ele vem fazendo isso...

Desde os 8. Isso mesmo. 

Não, eu não deveria estar lidando com um moleque a essa altura do campeonato e na minha idade, mas não há outro nome para o que ele é. 

— Olha o milho, a cenoura, mandioca fresquinhaaa... Plantação caseiraaaa... — Ele grita carregando o carrinho de mão. Olho pela janela e sei que eu odeio que ele faça isso. Os músculos flexionados guiando um carrinho cheio de tantos outros nomes que ele ainda não gritou. Ele não precisa fazer isso, mas ele vende os legumes que sua mãe planta com tanto carinho aos finais de semana. Só que quando chega na minha janela... — Só chegar e pegar o que quiser.... 

Claro. O filho prestativo. E atrevido. Esse garoto me dá nos nervos e nem garoto ele é mais. Só que minha mãe me mataria se eu fizesse qualquer outra coisa que pudesse feri-lo. Mas... Mandar ele para outro planeta poderia ser considerada uma forma de machucar alguém? 

Três batidas na porta de uma forma rápida. Mais duas insistentes. 

— Luzinhaaa.... Vai uma mandioca fresquinha aí? 

Mas é muita cara de pau mesmo. Falta de uma mão na cara dele e um tapa bem dado na fuça daquele... Indivíduo. 

— Talvez você queira outra coisa mais... — Quando eu abro a porta, ele está secando o suor do pescoço com uma toalha que ele deixa nos ombros nos dias quentes. A calça jeans clara e surrada está ali, assim como a camiseta branca de sempre e os braços... Bom. Não importa. 

Olhos verdes me encaram e um sorriso barbado se abre pra mim. Ele parece se divertir muito com a minha carranca e testa franzida, porque é a única expressão que eu posso dar a ele. 

— Quantas vezes eu vou ter que te falar que sou alérgica a mandioca? Me dá falta de ar e eu fico cheia de bolhas. Você sabe muito bem disso. E você não deveria de maneira alguma falar desse jeito. As pessoas devem estar pensando coisas que nunca vão acontecer. O que você quer, Mário? Encher meu saco? Pois conseguiu. Pode ir embora! 

Aponto para a rua. 

— Você não tem pena de mim, não? Eu só queria um copo d'água e... Bem, nós nos conhecemos e o dia está bem quente hoje. Não vejo problema algum nisso. Você vê? 

O dia está bem quente e bufo em resposta. Reviro os olhos e o deixo entrar. 

— Entre, mas não toque em nada. 

— Pode deixar que vou contar que você me tratou como... Um príncipe, quando sua mãe for lá em casa de novo. O que deve ser daqui a pouco. 

Na cozinha, a vontade é grande de cuspir no copo de água, mas eu não sou o tipo de garota que faria isso. Não isso... Não... Mas outra coisa... 

Ouço os passos dele me seguindo e quando eu vou dar o copo de água que ele queria, ele está bem atrás de mim. Com aquele mesmo sorriso idiota no rosto. Meio de lado. Como se ele fosse um homem charmoso. Ah, tá.. 

— Quer a sua água, Mário? 

— Tô esperando por ela como um homem que tem sede no deserto. — Ele me encara e olha para baixo, procurando e encontrando algo em meu rosto. Engulo em seco e acho que sou eu que preciso dessa água. Mas ela tem outro destino, porque eu jogo ela bem em cima da cabeça de Mário. 

— Eu sabia que você ia fazer isso, gata. 

Ele fecha os olhos e vejo os arrepios da água gelada passarem por seus braços. Ele lambe os lábios tomando qualquer gotícula que tinha por ali. Ele passa as mãos pelo rosto e quando abre os olhos novamente, eles parecem ainda mais verdes. A camiseta está molhada e marca o que não deveria marcar. O branco do tecido mostra que seu outro emprego está dando os resultados no seu corpo. Ou talvez seja esse atual, vai saber... 

— Se você sabia, por que você pediu então? — Eu tento soar desafiadora, mas minha voz falha na penúltima palavra. Não pareço mais uma moça desafiadora, e sim, patética. Ele não sorri. 

— Porque eu queria provar do sabor que você bebe todos os dias. — Ele me encara e não consigo parar de olhar pra ele, mas o empurro do mesmo jeito. 

— Qual, é, Mário! Sai daqui e pare de me provocar. — Dou um passo pra trás e eu encosto na cadeira.

— É sério! Você deve voltar lá pra vender seus milhos, cenouras, ou seja lá o que você vende pra sua mãe. Devem ter muitas... — Não termino a frase porque não quero pensar nessa possibilidade. — E além do mais é só água. 

Ele nega e faz uma careta. 

— Está bom aqui. — Ele me olha e joga uma mecha de cabelo atrás da minha orelha e desce o toque pelo meu pescoço. Sua mão é áspera e posso senti-la calejada quando ele pousa a mão, massageando minha nuca. — Fresquinho... — Ele pontua trazendo o polegar para a minha bochecha. — Irritante pra você, o que deixa aparecer essa covinha. E... Não é só água. Nem suco. Nem seja lá o que você goste de inventar de desculpa. Você não vai conseguir. Hoje, — Ele dá uma pausa, olha para o teto e depois me encara com ainda mais intensidade. — não. 

— Eu... Eu não faço ideia do que você está falando. E você deveria me soltar. — Isso é o que eu deveria ter dito, mas minha boca não parecia mais fazer parte do meu corpo. 

— É o que você quer, Luiza? 

Não respondo, mas ele parece ter a resposta bem clara porque não vejo o que sua outra mão está fazendo, mas ele me puxa para perto e sinto sua camiseta molhada em meu peito. O tecido está gelado, mas a pele dele é quente feito fogo embaixo. 

— Porque eu não quero te soltar. — Ele aproxima a boca do meu ouvido e estremeço. — Na verdade... Eu quero te provar. 

E quando ele diz isso, ele me puxa mais perto e pega o copo de água que eu tinha deixado na mesa depois de jogar em cima dele e joga o que restou da água em cima de mim e tudo vira um frenesi, porque em um minuto eu estou empurrando seu peito e no milésimo segundo seguinte ele está beijando todas as gotículas geladas que viajam pelo meu rosto , deixando um rastro de borboletas por todo meu estômago quando ele desce a mão até a bainha da minha camiseta e... 

MEU DEUS! 

Eu devaneei outra vez. E ele continua gritando lá fora. Argh!!!!!! 

— Olha a mandioca fresquinhaaaaa... Moça bonita da casa 105 não paga... Mas pode levar o que quiser! Até o vendedor!!! 

Ah, não! Esse cara me importunando de novo, não!

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