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Words Challenge 2022 - Rico

Hey cupcakes! Como vocês já sabem, eu e a Alê do blog Estante da Alê anualmente preparamos com muito carinho um desafio de palavras durante o ano todo, onde podemos nos desafiar e trazer um texto diferenciado no conteúdo dos nossos blogs. Os temas são diferentes e esperamos que vocês possam curtir e continuar nos acompanhando no Insta Rascunhando Memórias. Que tal conferir o nosso tema da vez na minha versão de Rico - a riqueza vai além do dinheiro?

words challenge 2022 rico com elenco de novela turca

Continue lendo para conferir!

Põe pra tocar: Who do you love? - Marc Lane



Elenco:
Personagem Masculino: Utku AteÅŸ 
Personagem FemininaBurcu Özberk

Palavras: 
morangos, pluralidade, higiene, corrida, dedos e bloco
• • 

  O que eu fiz?

Foi a primeira coisa que pensei enquanto chegava encharcada na casa do meu irmão, com o melhor amigo dele segurando uma caixa enrolada em muitos plásticos para proteger da chuva. Que ideia boba a minha de me mudar! Mas que ideia de ser despejada com a data limite para deixar o prédio hoje. Deveria ter feito isso antes.

Como a chuva não parecia que iria passar logo e Túlio estava muito mais molhado do que eu porque recusou o meu guarda chuva (por que homem é tão teimoso?), peguei algumas camisas do meu irmão, me aproveitando da sua ausência da cidade à trabalho. Eu imaginei que, quando ele estivesse em condições, surtaria pela camiseta amassada, mas o que eu poderia fazer? A saúde do Túlio era minha prioridade no momento. Além disso, imaginei que não seria problema se eu lavasse e deixasse exatamente do jeito que Dedé sempre deixou na gaveta antes do seu retorno. Ele nem iria notar.

Túlio tomou banho e colocou a camiseta preta que eu separei achando que seria o seu número junto com a calça de moletom. Só que eu estava tão, tão errada... Ambas as roupas se ajustaram - com o perdão da palavra - perfeitamente ao seu corpo. A coxa. O peito. Os braços delineados. No meu irmão ficavam largas, mas nele... Só destacava aquilo que ele gostava de cuidar: seu corpo. Academia. Muay Thai. Natação... Não que eu estivesse reclamando, de maneira alguma. Depois do banho quente, ele parecia bem. Juro que estava.

Sem mais trocadilhos.

E com roupas normais, que não fossem as camisas e calças sociais, Túlio parecia outra vez mais gente como a gente, sem aquela áurea séria e inalcançável que ele vestia no mundo dos negócios. O semblante mais tranquilo que eu já vira desde os seus dezoito anos.

Saí por alguns minutos para a minha higiene, afinal eu também tinha tomado a chuva gelada.

Quando voltei, ele estava deitado com os olhos fechados, coberta e as bochechas muito coradas.

E foi aí que eu percebi que algo tinha dado errado entre tomar aquela chuva gelada e me ajudar com a mudança repentina. E também foi aí que eu comecei a me desesperar. Respirei fundo, mas olhar para aquele homem deitado no meu sofá com o rosto febril me causava certo aperto no peito. Bem parecido com aqueles que eu sentia aos dezesseis anos quando ele sorria pra mim e bagunçava meu cabelo no corredor do colégio.

Claro que eu não sentia mias nada hoje em dia. Nada daquilo, pelo menos.
Era o que eu sempre repetia na minha cabeça.

O problema é que Túlio só continuou sendo mais bonito a cada ano depois daquele, ainda o melhor amigo do meu irmão, mesmo depois que começou a ter sucesso nos negócios. E agora, ele estava no auge de tudo aquilo que eu sempre quis na adolescência, só que mais maduro e bem de vida. Mas Deus e nós sabemos quantos blocos ele teve que levantar para chegar aonde chegou, literalmente.

E perdi as contas de quantas vezes meu irmão e eu estávamos lá para ajudar em qualquer coisa que ele precisasse. Por isso ele sempre era tão solícito conosco. Mas só isso.

Afastei os pensamentos como se fossem uma mosca insistente e me concentrei em pegar uma toalha e molhar na torneira, dobrando e colocando em sua testa. Com as costas da mão, senti a temperatura de sua bochecha, áspera na barba e macia na pele. Ele estava quente, mas de olhos fechados, eu podia observá-lo sem medo de que ele me pegasse no meio da análise que eu fazia do seu rosto. O tamanho dos cílios. O formato dos olhos e a curva da boca.

Eu sei que não deveria ter prestado atenção aos detalhes, mas a proximidade estava fazendo... Coisas comigo que até então eu desconhecia. Ou sequer me lembrava que existiam. Eu precisava focar na ideia que ele estava doente. Que nós nunca tivemos nada e nem teríamos.

Ele se mexeu e abriu os olhos, que estavam pesados, e sussurrou: — Acho que preciso ir pra casa.... - A sua voz estava rouca. - Já te ajudei com a mudança, Sol.

O velho apelido no diminutivo. Por que ele tinha que fazer isso com a minha cabeça?

Ele me encarou com a sobrancelha arqueada. Mesmo doente aquele homem conseguia ficar carrancudo e charmoso ao mesmo tempo.

— Você não precisa se preocupar, Girassol. - O velho apelido para o dia que eu me perdi no campo de girassóis, onde ele me encontrou, quando ainda éramos crianças. Horas depois, eu fiquei toda vermelha e descobri que era alérgica. Ele riu de mim enquanto me dava toalhas molhadas e um gel refrescante para aliviar a coceira, ajudando minha mãe que fazia um preparado para o meu banho.

— Claro que sim! - Revirei os olhos com a ideia - Afinal, você só teve que fazer a sua corrida heroica na chuva por causa do tombo que levei e ainda ficou me ajudando na mudança, porque meu irmão pediu.

Ele só veio porque Dedé pediu, eu tenho consciência disso. Foi só por isso que ele veio.

— Não tem problema, você sabe que é só chamar que eu venho. Além disso, você tem as suas coisas pra fazer... - Ele tentou se levantar, mas coloquei a mão em seu peito por cima da camiseta, que já estava quente outra vez.

Ele observou minha mão pousada no seu peito por dois segundos a mais que o necessário e voltou a me encarar, atrás dos olhos pesados.

— Tenho mesmo. - Pousei os lábios em sua testa que agora estava fresca, mas eu podia sentir a quentura de toda a sua pele. Ele estremeceu com o toque. - A febre está baixando, mas vamos esperar mais um pouquinho. Vou trazer um copo de água pra você e um antitérmico.

Enquanto eu me levantei, ouvi ele falar consigo:

— Jeito estranho de medir a temperatura. E muito bom.

Fingi não escutar. Deus, o que eu fiz? Beijando a testa dele para sentir a pele...

O observei da cozinha.
O melhor amigo do meu irmão.
Hoje em dia, o garoto rico da cidade, comandando duas empresas que tem uma pluralidade de apartamentos de aluguel.

Mesmo com o dia cheio, separou um tempo na agenda para ir atrás da irmã do amigo que tinha sido despejada e teve que se mudar às pressas. Para fechar com chave de ouro e laço vermelho, ele estava febril. Doente. EU o deixei doente.

— Lissa? Você está aí? - Ele falou, ainda com os olhos fechados e a voz rouca. — Você está demorando. Volta logo.

E você delirando.

— Sim, estou aqui, Túlio. - Me abaixei ao seu lado e ele abriu os olhos me observando, com um meio sorriso. Coloquei a mão em sua nuca, para ajudar ele e a se levantar para beber a água do remédio. - Tome tudo, cuidado, não pode engasgar.

Ele sorriu e tomou o comprimido e a água, sem desviar o olhar. Ele estava delirando, só podia ser. Engoli em seco.

— Você está bem? - Ele embolou a coberta em cima do peito e tocou minha bochecha quente, atento. Ele estava me encarando, mesmo que eu tivesse trocado o lado da toalha úmida - Está vermelha. Você também está com febre?

Neguei e desviei o olhar intenso que ele me dirigia. Eu sabia exatamente porque estava quente, vermelha e corada. Não era pela chuva.

— Eu estou bem, Túlio.

Antes que eu pudesse voltar pra cozinha, ele segurou meu pulso suavemente, ainda me encarando. Sustentando meu olhar, lambeu os lábios, num gesto involuntário.

— Girassol... Obrigado.

Sorri, tímida, suspirando sem fazer qualquer barulho.

— Por te deixar doente? Juro que não era minha intenção. - Arqueei a sobrancelha.

Ele deslizou os dedos por minha bochecha, enquanto os outros circulavam meu pulso.

— Por cuidar de mim agora. Dona Joana ficaria muito agradecida por ter cuidado com o menininho mimado dela. - O comentário sobre sua mãe me trouxe um sorriso involuntário e lágrimas aos olhos. - Não chore, por favor, Sol. Você sabe que ela está no campo de morangos colhendo todos pra você.

Assinto e desvio o olhar.

— Você sabe o que ela está dizendo?

Seus olhos me encararam, brilhantes e ligeiramente turvos e neguei suavemente.

— Ela está dizendo que eu demorei demais pra fazer isso.

Antes que eu tivesse tempo de pensar, Túlio aproximou seu rosto e roçou a barba na minha bochecha, me fazendo cócegas. Eu ri e vi ele dedilhando meu rosto no ponto exato da minha covinha. Quando eu fiquei imersa em seu olhar outra vez, ele me encarou com um meio sorriso:

— Te agradecer.

Ele passou a barba novamente me fazendo rir, agora em meu pescoço e depositou os lábios na minha covinha, com um movimento rápido eu me mexi com as cócegas e ele beijou o canto da minha boca. A respiração quente dele perto de mim. A intensidade do seu olhar que desviava dos meus olhos para os lábios e então contornando o meu rosto, como se estivesse vendo algo pela primeira vez...

Três batidas ritmadas na porta.

Nos assustamos e afastamos antes que meu irmão pudesse nos ver tão próximos.

— CHEGUEI MAIS CEDO, IRMÃZINHA!

— Poderia ter atrasado um pouco mais... - Túlio falou baixo, mas escutei e entendi que talvez... Talvez pudesse haver uma oportunidade dele me agradecer novamente.

E se isso acontecesse, eu cobraria meus agradecimentos com juros.
Ah, se cobraria.... 

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